quarta-feira, 1 de abril de 2009

Artigo de Martim Borges de Freitas

O CDS e a renovação no Parlamento Europeu
27-Mar-2009
Várias vezes tenho lido jornalistas a escrever que Ribeiro e Castro tem sido o cabeça-de-lista do CDS no Parlamento Europeu. Ao longo destes meses em que cresceu a dúvida sobre quem o CDS irá apresentar às próximas eleições europeias, não foi uma nem duas nem três vezes, mas muitas, que vi escrever-se sobre se Ribeiro e Castro “continuaria”, ou não, nessa função. O curioso é que Ribeiro e Castro nunca foi cabeça-de-lista do CDS-PP ao Parlamento Europeu. No CDS, todos o sabemos. Em 1999, no seu primeiro mandato, não foi sequer eleito directamente; e, em 2004, quando o CDS concorreu em coligação com o PSD, foi o último a ser eleito. Contudo, aquela convicção de ser ele o cabeça-de-lista generalizou-se, até entre jornalistas especializados em política, o que só pode ser levado à conta de um cumprimento ao serviço do país e dos valores democratas-cristãos. Ribeiro e Castro merece bem esse cumprimento. Sei que sou suspeito ao dizê-lo. Mas digo-o com independência de juízo e directo conhecimento de causa.
Eu não conhecia, aliás, o José Ribeiro e Castro. Foi ali, no Parlamento Europeu, que o conheci e pude tornar-me admirador das suas qualidades de inteligência e de visão política, de intenso trabalho, de imaginação e criatividade, de persistência e de luta, de sentido de humor, de correcção pessoal, de capacidade de interagir com muitos outros, dentro e fora dos grupos políticos em que o CDS se integrava. Em Portugal, sabe-se pouco sobre o funcionamento do Parlamento Europeu. Mas posso assegurar que custa muito, aí, no meio de 780 deputados, num oceano de diversidade e de volume, conseguir alguma coisa por parte dos que querem conseguir alguma coisa a favor de ideias, de Portugal, de um projecto político. No seu primeiro mandato, estava então o CDS integrado no grupo “União para a Europa das Nações”, várias vezes ouvi Ribeiro e Castro comentar ironicamente como era difícil “ser tripla minoria: deputado de um partido pequeno de um país pequeno num grupo pequeno”. E, há dias, quando visitámos Bruxelas, sorrimos ao ouvi-lo comentar que “agora, seria mais quádrupla minoria”, gracejando com o que se passou no CDS nos últimos anos. Apesar dessas limitações, Ribeiro e Castro conseguiu. Destacou-se, aliás, rapidamente, tendo, depois, logrado consolidar a confiança dos colegas. Um exemplo disso mesmo aconteceu quando o PPE o designou seu porta-voz e coordenador parlamentar para os Direitos Humanos, função que teria que deixar quando foi eleito Presidente do CDS. Todos conhecem Ribeiro e Castro e todos reconhecem que Ribeiro e Castro marcou, já marcou. Já marcou na forma como influenciou a atribuição de tantos Prémios Sakharov, o mais alto galardão europeu de direitos humanos, lançando propostas e mobilizando apoios e alianças diversas até conseguir a atribuição do Prémio a tantas causas relevantes, em Angola, em Cuba, no Darfur, na China; já marcou na luta persistente pela língua portuguesa e os passos que conquistou quanto ao seu reconhecimento europeu; já marcou no sentido abrangente de lusofonia com que entende o mandato parlamentar e as relações que estreitou com África e Timor; já marcou - e tantas vezes - no alto sentido que tem dos interesses de Portugal, como, por exemplo, na batalha contínua pelos interesses e direitos da nossa agricultura, tão maltratada por Sócrates e Jaime Silva; já marcou na fidelidade aos valores da família e vida, também em crise pela União Europeia, animando a reorganização da sociedade civil e vários grupos informais de articulação parlamentar; já marcou no pensamento crítico que expressou no tempo da Constituição Europeia e no acidentado processo do Tratado de Lisboa; já marcou na consagração póstuma de Lucas Pires; e já marcou em tantas outras linhas e acções que lhe fui conhecendo, e muitas vezes acompanhando, ao longo destes anos. O que entristece é que, às vezes, parece que o reconhecem e apreciam mais fora do que dentro CDS! Agora, lá anda ele outra vez pelo Equador. Há quem graceje e não entenda a importância disso. Mas, se se pensar que foi a terceira vez consecutiva que a Comissão Europeia lhe pediu para chefiar a missão da UE nesse país - não conheço outro caso assim -, então talvez já se torne mais evidente o valor de Ribeiro e Castro e o mérito do seu trabalho. Estamos a poucas semanas das eleições europeias. Pela minha parte - quero testemunhá-lo em tempo útil -, creio que o maior sinal de renovação na lista do CDS às europeias será convidar Ribeiro e Castro a encabeçá-la. A novidade está em convidá-lo a ser o que nunca pôde ser e em poder capitalizar a sua experiência em benefício de Portugal e do partido. Pôr Ribeiro e Castro a encabeçar a lista do CDS às europeias é, aliás, garantia de sucesso, justamente por se tratar de alguém que, tendo sido deputado europeu e aí tenha construído experiência e capital político, foi capaz de granjear enorme respeito e indiscutível prestígio. Lá como cá. O novo, até do ponto de vista interno ao partido, seria, pois, ter essa inteligência agora. Que poderá permitir, em vez de deitar fora, prosseguir, projectar e consolidar um trabalho que só os que já passaram por Bruxelas sabem como é difícil e complexo. Se não sendo cabeça-de-lista, Ribeiro e Castro alcançou o que alcançou nestes anos, muito mais poderá fazer pelo país e pelo partido se o CDS lhe fizer o reconhecimento e o desafio com que nunca o quis distinguir. Eis como deve ser.

Martim Borges de Freitas

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